terça-feira, 26 de maio de 2009
PROGRAMA DE INDIO
Em abril de 1997, o índio Galdino de Jesus, foi queimado vivo por adolescentes de classe média em Brasília. Na aldeia Paraguassu-Caramurú pataxó hã hã hãe em Pau Brasil, a morte de Galdino gerou um clima de revolta e indignação. O choro da mãe de Galdino, que não entendia como alguém poderia ter sido assassinado de maneira tão brutal, era o choro de um povo acostumado a ser massacrado e espoliado ao logo de séculos.
Galdino estava em Brasília lutando justamente pela demarcação de áreas reivindicadas pelos pataxós hã hã hãe em Pau Brasil. Até hoje, a Justiça ainda não resolveu a questão, que se arrasta há duas décadas.
No ano 2000, em Porto Seguro, bombas de gás lacrimogêneo, tiros com balas de borracha e cassetetes atingiram pessoas indefesas, numa bestialidade da Polícia Militar contra os índios pataxós de Coroa Vermelha, impedidos por barricadas de se deslocar até Porto Seguro, onde o presidente Fernando Henrique Cardoso, o senador Antonio Carlos Magalhães (que a época comandava o estado como se fosse uma Capitania) e uma comitiva de políticos e empresários comemoravam os 500 anos do Descobrimento.
Era uma festa, sem direito à contestação dos indígenas, que não aceitaram o papel de figurantes e, apoiados pelo movimento negro e pelos estudantes, decidiram mostrar ao mundo que o que as autoridades chamavam de descobrimento poderia ser entendido também como ocupação ou usurpação.
Naquela Coroa Vermelha em chamas, contrastando com a Porto Seguro em festa, retratava-se o fosse e o muro que separam o Brasil rico do Brasil dos milhões de excluídos. Os índios submetidos a pancadaria, eram o exemplo pronto e acabado da Casa Grande e Senzala.
A exemplo de Pau Brasil, embora as imagens da violência tivessem ganhado o mundo, pouca coisa mudou de lá para cá. Os índios de Coroa Vermelha continuam vivendo em condições subhumanas, “vendidos” aos turistas do Brasil e do Exterior como algo exótico. Nada diferente da sensação de quem visita um zoológico, com a considerável diferença de que ali se encontram seres humanos, legítimos donos de uma terra que era de seus ancestrais até a chegada dos portugueses e o início de uma história por demais conhecida.
A lembrança de Galdino e da pancadaria de Coroa Vermelha, vem a propósito por conta da pendenga judicial que está por se iniciar em Ilhéus com a decisão da Funai de reconhecer como sendo propriedade dos índios tupinambás uma área de 48 mil hectares, que envolve parte dos municípios de Ilhéus, Uma e Buerarema.
A se confirmar a demarcação, Olivença, com todo o seu complexo hoteleiro, além de pequenas propriedades rurais. O tema, como era de se esperar, está gerando controvérsias e debates acalorados.
Séculos atrás, os tupinambás foram vitimas de um massacre que, diz a lenda, cobriu de sangue o trecho de praia entre o Cururupe e Olivença. Quase foram extintos e hoje lutam para recuperar não apenas a terra que julgam lhes pertencer, mas a própria identidade.
Por envolver áreas urbanas e uma estrutura turística que é um dos esteios da frágil economia ilheense e também por envolver injustiças históricas, trata-se de uma situação em que interessa menos o conflito e mais o bom senso.
Há que se encontrar uma saída que evite prejuízos a milhares de pessoas e que ao mesmo permita aos tupinambás uma vida menos dura.
A melhor arma, nesse caso, é o diálogo.
De vítimas, essa história já está cheia demais.
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