terça-feira, 7 de abril de 2009

O MOSQUITO AGRADECE



Trava-se nos últimos dias uma batalha, que beira a insanidade, para apontar quem é o responsável pelo caos que se instalou no sistema de saúde pública em Itabuna e que gerou, entre outras conseqüências graves, uma epidemia de dengue de proporções bíblicas, com casos contados aos milhares e mortes de crianças, jovens adultos e idosos.

Uma epidemia que deu a Itabuna o título nada honroso (na verdade trata-se de um
título vergonhoso) de Campeã Nacional de Dengue.

Enquanto a dengue não dá sinais de refrear, as unidades de saúde funcionam (?) sem médicos e enfermeiros e os remédios escasseiam; e na Central de Regulação as guias de exames e consultas relativas ao mês de abril se esgotam num único dia, gasta-se energia num tiroteio verbal inútil.

A Prefeitura diz que a culpa pela situação é do Estado, que por sua vez atribui a culpa à Prefeitura.

É fato que, a partir da explosão da epidemia de dengue, a Secretaria Estadual de Saúde não poupou esforços e investimentos. Os repasses para o Hospital de Base foram ampliados em 500 mil reais/mês e para a Santa Casa em 750 mil/reais mês. O Hospital
São Lucas foi reaberto com um setor especialmente destinado aos casos de dengue e foi implantado um Posto de Atendimento na 7ª. Dires, também para atender vítimas da doença. Médicos do Exército, do Rio de Janeiro e até da Venezuela foram deslocados para Itabuna para cooperar no combate à doença.

É fato também que, se retardou o trabalho de prevenção e minimizou uma situação que já se mostrava gravíssima desde os primeiros dias de governo, talvez com o intuito de se viabilizar a realização de um carnaval fora de época em todos os sentidos, a atual administração municipal herdou uma espécie de “bomba relógio”, que iria explodir de qualquer maneira. A epidemia de dengue é fruto exclusivamente da ausência de prevenção, notadamente nos últimos dois anos.

E prevenção, como se sabe, não se faz em um mês ou dois. Demanda tempo, dinheiro, planejamento.

Dispensa-se o tiroteio, a caça às bruxas.

A população de Itabuna, a principal prejudicada, não pode continuar sendo vítima de um sistema de saúde pública inoperante, caótico e incapaz de atender as demandas por um serviço essencial.

Até quando continuaremos produzindo vítimas fatais por conta da irresponsabilidade e da má gestão dos recursos públicos?

Quantas vidas ceifadas ainda serão necessárias para que a saúde seja tratada como prioridade e que os recursos sejam aplicados corretamente?

Se nada for feito, em nível de prevenção, Itabuna é séria candidata ao ainda mais vergonhoso bi-campeonato nacional de incidência de dengue em 2010.

Enquanto houver muita falação e pouca ação, continuaremos habitando uma cidade em que em vez de um sistema de saúde pública, somos obrigados a conviver (melhor seria dizer, sofrer) com um sistema de doença pública.

O mosquito da dengue agradece.

A população, muito pelo contrário.

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