Lençóis, 1998. Encontro Estadual de Jornalistas. Apesar do nome pomposo, o evento já conhecera tempos melhores e praticamente havia se transformado num convescote. As discussões se limitavam ao nhem nhem nhem de sempre: exigência do diploma, surgimento de novos cursos de comunicação nas faculdades e valorização profissional.
Na verdade, essa baboseira toda só valia a pena pela oportunidade de rever amigos do Extremo Sul, de Jequié, de Vitória da Conquista e Feira de Santana, tudo regado a hectolitros de cerveja.
No encontro em questão, Itabuna estava representada por Ederivaldo Benedito, Joselito Reis,José Carlos Bombinha. Juarez Vicente, Paulo Lima e este escriba.
Devidamente hospedados no Portal Lençóis, hotel com uma vista maravilhosa da Chapada Diamantina, constatamos que Paulo Lima havia viajado sem um puto no bolso. Lisinho, lisinho.
Até ai, nada demais. O hotel era por conta do Sindicato dos Jornalistas com direito a café da manhã, almoço e jantar e a bebida estava garantida pelos inúmeros regabofes oferecidos pelas autoridades locais, ávidas pra fazer média com a imprensa.
Bastava apenas evitar que Paulo Lima fizesse as chamadas “despesas extras”. Em comum acordo, foi decidido que eu avisaria a portaria do hotel que com aquele cliente nada de despesas para pagar no check-out, popularmente conhecido como fechar a conta saída do hotel. Chato, mas melhor do que ter que passar a sacolinha no final do evento.
Por volta das 19 horas, enquanto aguardava a abertura do seminário, fui ao bar do hotel, ser apresentado a uma legítima cachacinha da Chapada.
Eis que, me deparo com Paulo Lima, num impecável terno azul marinho, sentado numa das mesas com duas senhoras que, pelas roupas e pelas jóias, eram o que se pode chamar de cheias da grana. Sinal amarelo. Perigo, perigo, perigo...
Discretamente, sentei no balcão do bar, nem tão perto que incomodasse, nem tão longe que me impedisse de ouvir aquele bolodório.
Paulo Lima estava inspiradíssimo. Dizia que tinha várias fazendas de cacau no Sul da Bahia (incrível como, com a vassoura-de-bruxa devastando as roças e transformando ricaços em pobretões, alguém ainda aplicava o conto do fazendeiro de cacau!), que possuía iate em Ilhéus, apartamentos no Rio, São Paulo e Salvador. E ainda se gabava de suas viagens à Europa e aos Estados Unidos, com a freqüência com que nós, pobres mortais, vamos ao boteco da esquina.
As diletas senhoras pareciam estar adorando a conversa e eu até achava graça daquela situação. Mas a história não acabaria ali. Enquanto eu sorvia meu terceiro copo de cachaça (bem abaixo da minha média, reconheço), aconteceu. Sinal vermelho!
Quando as mulheres pediram a conta de um jantar pra lá de fornido e o garçom apresentou a fatura, Paulo Lima se antecipou e perpetrou:
-Mesa em que Paulo Lima senta, mulher não paga a conta. Deixa que eu assino essa nota...
Não sei se foi meu olhar de desespero, se foi a engasgada que eu dei com a cachaça ou se duas senhoras sabiam que a tal riqueza dos coronéis do cacau já eram lendas reduzidas aos livros de Jorge Amado.
O fato é que elas gentilmente tomaram a nota das mãos Paulo Lima, sacaram um humilhante cartão American Express e a conta foi devidamente paga. Por elas, ufa!
Resumo da ópera: o nosso prejuízo se limitou aos dois uísques que Paulo Lima bebeu enquanto representava o papel de milionário com a galhardia que lhe é peculiar.
Pensando bem, até que foi lucro.
Se as duas damas, na verdade turistas de São Paulo em tour pela Bahia, não fossem tão distintas, era bem capaz da gente jogar o Paulo Lima lá do alto do Morro do Pai Inácio.
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PS- Essa história, confirmada aos risos pelo protagonista, só está sendo publicada com a devida autorização de Paulo Lima, seguramente uma das mais fantásticas figuras humanas desse chão grapiuna.
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