Há pelo menos uma semana venho recebendo ligações diárias de uma operadora de telefonia celular.
Moças com um inconfundível sotaque paulista e cheias de mesuras tentam me convencer a fazer um novo plano, trocando sistema pré-pago por uma das inúmeras opções de pós-pago.
É claro (aqui vai o primeiro de uma série de trocadilhos) que as ofertas são tentadoras. Minutos grátis, tarifas reduzidas, uma infinidade de torpedos liberados, bônus para cada ligação...
Se o sujeito não ficar vivo (lá vai o segundo trocadilho) acaba aceitando um dos planos sugeridos quase por impulso, dada a gentileza das atendentes. Você está falando com um ser humano, alguém de carne e osso e não com uma gravação; e invariavelmente acaba se rendendo.
Passa seus dados, faz o plano que a moça lhe convence ser o mais apropriado e pronto!
Pronto mesmo, porque a partir daí, negócio consolidado, bom dia senhor, boa tarde senhor, boa noite senhor (maldita mania que paulista tem de chamar todo mundo de senhor!), obrigado, passar bem, desliga.
E aí do pobre coitado que depois descobre que não era bem assim, que por trás daquela proposta maravilhosa existiam algumas condições, não suficientemente explicadas pelas operadoras, que tornam o plano desvantajoso e, em alguns casos, desastroso.
Porque, nesse caso, saem as atendentes solícitas, com suas vozes de sereia, e entram as inefáveis gravações, numa espera capaz de testar a paciência de monge budista. Ou de monge tibetano, categoria mais em moda graças ao jeito olimpicamente chinês de tratar quem ousa questionar o poder dos camaradas/capitalistas.
Você liga para o número indicado e começa a romaria. “Se o senhor quer saber o valor da conta, tecle 1”; “se o senhor quer reclamar de defeito na linha tecle 2”; “se o senhor quer mudar a data do pagamento da fatura, tecle 3”; “se seu aparelho está com ruído, tecle 4”; “se seu time está jogando mal, tecle 5”; “se você não agüenta mais sua mulher nem ela agüenta você, tecle 6”; “se você quer falar com uma de nossas atendentes... bem, nesse caso tecle qualquer tecla e espere sentado, porque em pé cansa”.
E cansa mesmo, enquanto você ouve aquela série de comerciais tentando convencer que sua operadora é a melhor da Via Láctea, quando você está ligando justamente porque ela não é.
Quando, finalmente, consegue falar com uma atendente de verdade, começa o empurra-empurra. “Vamos estar transferindo o senhor para o setor tal”, “aguarde que vamos estar colocando o senhor em contato com o departamento tal” e nada de resolver o problema, ainda mais quando o cliente (ou seria a vítima?) se mostra disposto a cancelar o plano.
Joga para um, passa para outro, argumenta daqui, questiona da lá. “Mas, senhor, outra promoção dessas nós não iremos fazer!”, “o senhor não gostaria de fazer, então outro plano?”, “o senão não quer refletir melhor e ligar outra hora?”.
A senhora não se incomodaria em ir pra PQP? Ops, a conversa está sendo gravada!
Meu último contato desse nível com uma operadora que ofereceu um plano super-econômico e no final das contas a fatura dobrou de valor em relação ao que eu pagava no plano anterior, durou exatos 47 minutos, ao final dos quais nada foi resolvido, porque ai entram as taxas de cancelamento, os prazos mínimos para manter o contrato, etc.,etc., etc., etc.
Em suma, cada vez que receber uma ligação prometendo o céu da telefonia, o jeito é desligar antes que a moça da voz macia e inebriante diga oi (pronto, aqui está o trocadilho final).
Porque numa situação dessas, não dá nem pra fazer um brinde.
E tim-tim, convenhamos, é um trocadilho mais infame -e despropositado- do que os demais.
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