
“Ô tia, bom mesmo foi a pena que o juiz me deu. Lá a gente tem que cuidar de jardim, limpar as salas, mas tem lanche e joga bola. Muito melhor do que essa porcaria de aula, que não serve pra porra nenhuma”.
A frase acima é de autoria de um menino de 16 anos, aluno da oitava série do ensino fundamental numa escola da periferia de Ilhéus e foi dita em voz alta, para a professora e para quem mais quisesse ouvir.
Poderia ter acontecido na periferia de Itabuna, não faz diferença.
O aluno, detido pela polícia por cometer pequenos furtos, referia-se às chamadas medidas socioeducativas, impostas pela Justiça, em ocorrências que dispensam o internamento em instituições que, muitas vezes, funcionam mais como escolas do crime, espécie de pré-vestibular para a bandidagem.
As medidas socioeducativas permitem que, mantido no convívio com a família e acompanhando por uma equipe multidisciplinar que inclui educadores, assistentes sociais e psicólogos, o menor que cometeu ato infracional possa ser ressocializado.
Na maioria dos casos dá certo, contribuindo para que meninos e meninos revertam o caminho inevitável do crime e levem uma vida digna.
Em outros, nem tanto.
A sensação do aluno que acha a medida socioeducativa é um piquenique e entende que estudar é perda de tempo, encontra ressonância e muitas outras escolas, onde é tênue e facilmente o muro frágil que separa a educação da criminalidade.
Quem é profissional de educação conhece, perfeitamente, essa dura e ameaçadora realidade.
Professores e funcionários das escolas são ameaçados e às vezes até agredidos por alunos. Alguns estudantes chegam a exibir armas, como quem exibe um diploma ou um boletim repleto de notas 10.
O tráfico de drogas é feito quase abertamente nas proximidades das escolas. Do vício, estudantes passam a soldadinhos do tráfico, vítimas fáceis e fatais dessa guerra cotidiana.
Seria suficiente para desanimar, jogar a toalha e achar que as coisas não têm mesmo jeito?
Que estudar é uma porcaria que não serve para nada?
Ao contrário, situações como essas devem servir de estímulo para que os profissionais envolvidos com a educação e a sociedade como um todo encarem o desafio de fazer da escola uma porta de acesso para a cidadania e a inclusão.
Não á tarefa fácil, envolve políticas públicas, força de vontade e mobilização.
Mas é a principal, senão a única, arma para evitar que meninos e meninas troquem a caneta pelo revólver e o livro pela droga.
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