
A onda de violência que assola o eixo Ilhéus-Itabuna, com sete assassinatos no último final de semana, além do banho de sangue que eleva o índice de homicídios à estratosfera, acaba produzindo situações, digamos, inusitadas.
Tome-se, por exemplo, um assalto à ônibus ocorrido na linha Itabuna-Barro Preto.
Assaltos a ônibus, assim como furtos, roubos e arrombamentos raramente merecem registro, diante da profusão de assassinatos. As vítimas, muitas vezes, nem se dão ao trabalho de prestar queixa. É pura perda e tempo e chateação.
Mas o assalto em questão chama a atenção pela situação em que se deu, digna de entrar para o anedotário, não fosse o fato de que a explosão da criminalidade não tem graça alguma, muito pelo contrário.
O citado ônibus seguia sua trajetória normal junto à outrora pacata Barro Preto. Num determinado ponto, entraram três rapazes. Mais outro ponto e entram mais três rapazes. Simples passageiros nessa profissão onde, como na vida, tudo é passageiro, menos o motorista e o cobrador.
(Um parêntese: em algumas linhas até o cobrador tornou-se dispensável. Sua função é acumulada pelo motorista. Isso, enquanto não inventam ônibus dirigidos por robôs).
Voltemos ao ônibus.
Três rapazes nos bancos de trás, três rapazes nos bancos da frente, os passageiros não vendo a hora de chegar em casa, para o merecido descanso.
Eis que, subvertem-se até os chavões. Nem tudo no ônibus é passageiro, motorista ou cobrador.
Num trecho de pouco movimento, três dos rapazes, armados de facas e revólveres, anunciam o assalto.
“Mais um assalto”, devem ter pensado os passageiros, o motorista e o cobrador, já pensando na aporrinhação do registro da ocorrência.
Não era apenas “mais um assalto”, posto que veio o inacreditável: assim que os três primeiros rapazes anunciaram o assalto, os outros três rapazes, igualmente armados de facas e revólveres também anunciaram o assalto.
Numa dessas coincidências absurdas, que apenas reforçam a que ponto chegaram os índices de criminalidade, duas quadrilhas que não se conheciam decidiram assaltar o mesmo ônibus.
Poderia ter havido uma disputa pela primazia do assalto, com tiroteio e conseqüências trágicas. Mas os marginais foram de uma nobreza de nobre inglês.
Chegaram a um acordo e socializaram o produto da rapinagem: 350 reais da empresa de ônibus e minguados 14 reais dos passageiros, além de telefones celulares.
Moral da história: é tanto bandido que vão ter que criar uma escala para os assaltos, coordenada por um hipotético Sindicato dos Ladrões.
Imoral da história: duas quadrilhas assaltando o mesmo ônibus chega a ser pitoresco, mas os assassinatos em série e essa onda de insana de violência precisa de um basta.
Porque não tem nada de passageira...
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